sábado, 3 de março de 2012

O ISO e o Ganho nas câmeras digitais


No tempo do filme havia uma verdade inabalável, quanto maiores fossem os grãos de prata colocados no filme, maior seria sua sensibilidade à luz e menor seria sua qualidade de imagem, a recíproca era verdadeira, quanto menores os grãos, menor a sensibilidade à luz, mas maior a qualidade de imagem.
Isso é fácil de entender, um grão de prata pequeno é como um grafite fino para o desenhista, permite desenhar detalhes, já um grafite grosso ou o grão grosso da prata, não permite esse detalhamento. No entanto, é fácil perceber que um grão maior tem mais condições de reter luz do que um grão menor, daí o aumento da sensibilidade.
Como vocês podem ver a coisa era simples, grão grande, imagem granulada e facilidade com situações de pouca luz, eram os filmes de ISO 800, 1600 e 3200. Grão fino, imagem detalhada e sem grãos, mas pouca sensibilidade, eram os filmes de ISO 50, 100, 200.
Haviam truques de laboratório que permitiam usar um filme de ISO 400 e revelar de forma que ele funcionasse mais ou menos como um filme ISO 800 ou mais, era a puxada de filme. Hoje em dia pouca gente sequer sabe o que era isso, mas acreditem, existiu e era fácil de fazer. Uma concentração maior de um químico, ou deixar o químico agindo mais tempo sobre o filme já resolviam esse tipo de situação.
Nesse tempo, uma câmera fotográfica, uma filmadora como uma Super8, uma câmera de cinema Super35mm, todas trabalhavam da mesma forma, com filmes, e esses filmes tinham ISO (naquela época chamavam de ASA mas os valores eram os mesmos)
Hoje você pode apertar um botão, entrar em um menu e mudar lá a regulagem do ISO de 100 para 6400 de uma foto para outra sem problemas, com o filme você tinha que tirar um filme e colocar outro, agora não, aperta um botão.
Mas como é possível alterar a sensibilidade à luz se os pixels dentro da câmera são os mesmos? Se eles permanecem do mesmo tamanho, ficam no mesmo lugar e não recebem nenhum tratamento químico diferenciado, como é possível?
Na verdade o ISO de uma digital é fixo, e nem deveria chamar ISO. Ela tem uma determinada capacidade de absorver luz, que é convertida em um sinal elétrico, que é convertido em sinal digital, e teremos um arquivo com a imagem no final da linha, mas não estamos falando de ISO, de grãos de prata nem nada disso. Esse processo todo é feito de forma que o resultado final se assemelhe em luminosidade ao que existia em filme, daí a analogia com o ISO.
O uso do termo ISO para chamar a sensibilidade de câmeras fotográficas foi um erro dos fabricantes de câmeras. Isso foi feito para facilitar a vida de fotógrafos visto que eles estavam acostumados com filmes, mas é um erro.
No mundo do vídeo, lá nos anos 80, quando popularizaram as fitas VHS e Betamax, as câmeras de vídeo não tinham ISO, o vídeo virou digital, abandonou a película, as fitas são mídias digitais e naquela época entenderam que não havia paralelo entre filme e digital, em um meio digital o que havia era o sinal elétrico e o ganho.
As câmeras de vídeo, para aumentar a sensibilidade, tem um comando chamado ganho. O ganho é aplicado em decibel (dB), no caso +6dB equivale a aumentar 1 ponto no ISO, +12dB são 2 pontos e assim por diante. Existem valores intermediários, assim +3dB equivale a aumentar meio ponto de exposição.
Isso faz sentido pois o ganho é aplicado da mesma forma que o aumento do volume num equipamento de som: um amplificador de sinal. E o que foi colocado nas câmeras de vídeo é isso, um amplificador de sinal, daí pararam de usar o termo ISO e começaram a usar ganho.
Vernaglia Mongagua 7155w 619x300 O ISO e o Ganho nas câmeras digitais
Aí vem a fotografia digital, anos depois e deveria ter feito o mesmo, usar o termo ganho, em dB, pois o aumento do ISO nas digitais é um aumento de sinal elétrico feito por um amplificador, a sensibilidade da câmera digital é fixa, só trabalhamos o sinal o amplificando, dando ganho ao sinal, mas os fabricantes decidiram que iriam continuar chamando de ISO e disso tudo nasce uma grande confusão.
Hoje acontece com alguma frequência que cinegrafistas comprem câmeras fotográficas que tem capacidade de gravar vídeos, e não entendam direito o que é ISO, visto que em filmadoras esse termo sumiu há anos. Também acontece de fotógrafos se interessarem por vídeo e ao adquirirem filmadoras ficam sem entender o que é o ganho.
É possível colocar uma câmera ao lado da outra, com uma determinada iluminação, e ir regulando tudo até as imagens baterem em termos de luminosidade, aí, estando com mesmas aberturas de diafragma (ou íris como é chamado no mundo do vídeo), mesmo tempo de obturador, poderá ser descoberto qual o ISO equivalente de uma câmera de vídeo quando comparada a uma câmera fotográfica e assim saber que +6dB irá dobrar essa sensibilidade, e assim por diante.
Outro ponto a mencionar é o ruído de imagem. Tendo clareza de que os pixels são de tamanho fixo dentro da câmera sabemos que o ISO ou a sensibilidade é fixa, o aumento de ISO ou de ganho, se dá por meios eletro-eletrônicos, e a qualidade desse processo determinará muito sobre a qualidade da imagem.
Um melhor processo eletro-eletrônico, além de melhores softwares internos para controlar todo o processamento e gravação dos arquivos determina mais a qualidade da imagem e menos ruído.
Hoje o processamento e a qualidade do trato dado ao sinal elétrico é mais importante do que o tamanho dos pixels e isso é provado por câmeras que tem cada vez mais megapixels, mas também tem menos ruído de imagem que suas gerações anteriores. Uma câmera atual na faixa dos 20 megapixels tem em ISO400 o ruído que uma câmera de 6 megapixels tinha em ISO100 há poucos anos, mesmo tendo pixels bem menores e em maior quantidade.
É por isso tudo que eu disse que era fácil no tempo do filme, hoje não temos como saber nada sobre toda essa engenharia aplicada sobre um sinal elétrico, como é esse processamento e o que a câmera faz dentro de si antes de gravar nossos arquivos.
No mundo da fotografia digital, nada é exatamente o que se imagina, nem o ISO.
Armando Vernaglia Jr

Lytro, uma câmera para o futuro



Texto:
Por Sam Grobart
Quando as câmeras saíram da era analógica e se tornaram digitais, ocorreu uma mudança brutal. Era como sair de filmes preto-e-branco para transmissões em cores. Mas um processo de tirar uma foto continuou o mesmo: você foca no objeto e aperta um botão para gravar a imagem.
Uma nova câmera chamada Lytro inaugura uma nova era. Você tira uma foto e define o foco após a gravação da imagem. Com poucos cliques na imagem, você define qual parte deve ficar em foco e qual deve ficar desfocada.
Foto: NYT
Fotos mostram recurso de mudança de foco da Lytro
A tecnologia é impressionante. Nas últimas semanas, usei bastante a câmera Lytro e ela mudou minha forma de fotografar. Imagine uma foto de casamento com a noiva em foco e a festa ao fundo. Clique na noiva e ela estará em foco, enquanto as acompanhantes ficam desfocadas. Clique nos convidados e foco muda para eles. A imagem se ajusta rapidamente ao foco desejado.
O efeito faz com que a fotografia fique mais parecida com o cinema. Quando estava alterando o foco em uma imagem, ficava me imaginando como um agente da CIA nos filmes de espionagem, procurando um detalhe em uma foto.
A câmera Lytro, que começou a ser vendida esta semana no site lytro.com, consegue fazer isso porque seu sensor captura mais dados do que os sensores de câmeras comuns. O sensor da Lytro registra as informações comuns (qual a intensidade da luz e as cores que chegam à câmera), mas também sabe a direção em que a luz chega à câmera. Com essa informação (conhecida como campo de luz), o software incluído na câmera pode criar vários pontos focais.
Design diferente
Tudo isso acontece em uma câmera que se parece um tablete de manteiga. É um design diferente, com uma lente em uma ponta e uma tela quadrada e sensível ao toque na outra. No topo da câmera ficam o disparador e uma área sensível ao toque para controlar o zoom óptico de 8x.
Na parte de baixo há uma porta USB e o botão liga/desliga. É um design simples e elegante, mas leva um tempo para se acostumar. De início, me senti meio que como um capitão de um navio antigo, segurando uma luneta.
A Lytro pesa 215 gramas, um pouco mais do que algumas câmeras básicas, mas essa diferença é imperceptível na prática. Não há cartão de memória ou bateria removível. A câmera vem com memória interna de 8 GB (350 fotos e preço de US$ 399) e 16 GB (750 fotos e preço de US$ 499).
Foto: Divulgação
Lytro tem design bem diferente do de câmeras convencionais
Como a Lytro captura luz na forma de raios, e não pixels, o sensor é descrito como 11 megarays (11 milhões de raios) em vez de pixels. Ambos os modelos vêm com uma bateria que dura cerca de 600 fotos, de acordo com o fabricante.
Tela pequena dificulta ver fotos
O boot da Lytro é rápido. A tela funciona em 1 segundo. Essa tela é um dos pontos fracos da câmera. Depois de anos vendo fotos em telas grandes de smartphones e câmeras básicas, a tela de apenas 1,5 polegada da Lytro é pequena para mostrar com clareza o que está sendo fotografado.
Já a interface baseada em toque é melhor. Quando a câmera está em modo de captura, um gesto lateral com o dedo revela um painel com informações de bateria e memória. Outro gesto exibe as últimas fotos tiradas. Também é possível ajustar o modo para regular a área de foco. É obrigatório escolher uma área para o foco, mas uma atualização prevista para os próximos meses deve deixar essa tarefa opcional, diz o fabricante.
Foto: DivulgaçãoAmpliar
Tela da Lytro tem 1,5 polegada
Depois que a foto é tirada, o usuário pode brincar de trocar o foco na própria câmera. Mas a tela de 1,5 polegadas não favorece essa tarefa. É melhor fazer isso em um computador. Atualmente é necessário um Mac, pois o software não é compatível com Windows. Isso deve ser resolvido nos próximos meses, segundo o fabricante.
Tirar fotos com a Lytro revela outras vantagens além de poder usar o foco depois da captura. Pra começar, como o foco é feito depois da gravação da imagem, a Lytro é mais rápida para tirar as fotos, já que dispensa o tempo necessário para o ajuste de foco. Ela não é tão rápida quanto câmeras profissionais, mas você pode disparar à vontade com pouquíssimo atraso. Em meus testes, a Lytro conseguiu capturar uma foto a cada 1,3 segundo.
Transferência de fotos é demorada
A transferência das fotos para o computador é feita por meio de USB. Vale ressaltar que não é uma simples cópia de arquivos. Há um processamento necessário para que as imagens possam ser clicadas e refocadas no computador. Se você vai transferir muitas imagens, pode ir até a cozinha e pegar um café enquanto a câmera trabalha.
Quem compra uma Lytro tem direito a uma conta em um serviço online para criar galerias e publicar as fotos em redes como Facebook e Twitter. O serviço é fácil de usar para qualquer pessoa que já publicou uma foto na web.
As imagens da Lytro são gravadas no padrão LFP (light Field Picture). Quando publicadas na web, elas são automaticamente importadas para uma aplicação em Flash com HTML5. Assim, qualquer um que acessa as imagens publicadas na web pode mudar o foco.
Brincar com o foco da imagem é o maior atrativo das fotos tiradas com a Lytro. Por isso, o formato LFP não serve para imprimir as imagens. É possível gerar um JPEG para impressão, mas ele terá uma resolução baixa, de 1.080 por 1.080. Dá para imprimir fotos em tamanhos pequenos, mas elas não ficam com uma boa qualidade.
No geral, a Lytro tem um design atraente e vem com uma tecnologia impressionante e um software fácil de usar. Mas isso não quer dizer que você deva comprá-la.
Preço alto diminui apelo
A câmera tem falhas, e algumas consideráveis. Por exemplo, não dá para compartilhar fotos longe do computador. Isso é uma surpresa, já que um dos avanços recentes em fotografia foi o surgimento de câmeras de smartphones com recursos para compartilhar as fotos assim que são tiradas.
Sites que desmontaram câmeras Lytro observaram que há um chip Wi-Fi inativo. Então deve haver avanços nessa área. Mas, por enquanto, é necessária uma conexão ao computador para compartilhar as imagens.
Foto: DivulgaçãoAmpliar
Lytro vem em três cores e possui versões de 8 GB e 16 GB
E, embora a mudança de foco seja um recurso interessante, ele é o único neste momento. Adicionar um filtro à la Instagram ou importar uma imagem para o Photoshop no momento é impossível.
Além disso, há o preço. O valor de US$ 400 ou US$ 500 não é um trocado qualquer. Ela é muito cara para quem quer tirar fotos básicas (para isso há a câmera do seu smartphone), e usuários mais profissionais desejarão mais controles de ajuste e lentes.
O potencial para fotografia baseada em campo de luz é grande. A vantagem de tirar fotos sem fazer o foco realmente é muito atraente. Mas há uma diferença entre uma boa tecnologia e um bom produto. Se a Lytro conseguir refinar sua tecnologia e torná-la mais versátil e barata (imagine esse recurso em um smartphone), ela pode se tornar um marco.